O Vocabulário A adotado pela Novafala em 1984 de George Orwell incluía palavras quotidianas como comer, beber, trabalhar, usar meio de transporte, cozinhar, etc., composto quase inteiramente de palavras usuais como cão, árvore, açúcar, casa, campo, contudo bastante reduzidas não só em número e quanto em qualidade de sentido, que era mais rigidamente definido, eliminando assim ambiguidades e nuances de sentido. Esses recursos sendo expurgados, seria praticamente impossível usar esse vocabulário para fins literários ou em discussões políticas e filosóficas. O Vocabulário A era, na verdade, utilitário, refletindo o mundo concreto ou ações físicas, puramente material. A riqueza de sentido proporcionada por advérbios de lugar, tempo, modo, intensidade, por exemplo, era reduzida a advérbios terminados em –mente: velocidadamente significava “depressa”, e na mesma lógica, o adjetivo velocidadoso significava “rápido”, eliminando assim os sinônimos de outra extração etimológica. Nesse sentido, antônimos eram formados com a simples prefixação de des- (desbom correspondia a ruim) sempre visando ao empobrecimento do léxico e da gramática. Esta última, por exemplo, apresentava um achatamento dos tempos verbais: o pretérito e o particípio de todos os verbos eram iguais.  O Vocabulário B era totalmente tendencioso por criar palavras que continham propósitos políticos, inclusive induzindo as pessoas a uma disposição mental desejável ao Socing, ou o Socialismo Inglês. Sem um real embasamento dos princípios do partido, era impossível traduzi-las para a Velhafala. As palavras do Vocabulário B eram sempre compostas, agrupadas de forma a facilitar a pronúncia: Miniver, ou o Ministério da Verdade, podia ser adjetivado como minivero, em vez de miniverdadoso. A heresia de palavras como honra, justiça, moralidade, democracia, ciência, religião era suprimida por um simples vocábulo: crimepensar, que resumia todas as palavras reprováveis naquele contexto, evitando mencionar seus nomes. Nenhuma palavra era ideologicamente neutra e tudo o que tinha ou poderia ter algum significado político estava incluído nesse tipo de vocabulário. Excluída a preocupação com a exatidão de sentido, a eufonia dominava: a forma sobrepujava o conteúdo. O vocabulário da Novafala era minúsculo, excludente, e buscava incessantemente a maior restrição possível. O ideal seria chegar a falas articuladas vindas da laringe sem pensar, traduzido em miúdos pelo vocábulo patofala, ou “grasnar como um pato”.  Já o Vocabulário C era formado apenas por termos técnicos e científicos, eliminadas, é claro, as inflexões indesejáveis e eliminada a possibilidade de se discorrer sobre a função da ciência como hábito mental ou método de pensamento. Mediante toda essa camisa-de-força semântica, gramatical e léxica, é desnecessário dizer que traduções eram uma missão impossível, pois, além de toda a esterilização linguística, a história já havia sido reescrita. Chegado o momento da abolição definitiva da Velhafala, o último elo com o passado teria sido rompido. Restando somente fragmentos da literatura do passado, eles se tornariam ininteligíveis e intraduzíveis posto que a tradução é um exercício não somente intelectual, que tem sua ciência, mas que também se vale da cultura, de contextos históricos e de transposição de línguas inteligíveis, dotadas de riquezas e recursos linguísticos que possibilitam essa transtextualidade.