Introdução do livro intitulado Poesia de Guerra, de Bernard McGuirk (*), original em inglês,  tradução para o português de Marie-Anne Kremer.

“Na era pós-Falklands/Malvinas, houve uma surpreendente escassez de poesia de guerra. Provavelmente, o primeiro poema a abordar o conflito foi “Juan López y John Ward”, de Jorge Luis Borges, cuja tradução para o inglês (de modo algum não problemática) apareceu em The Times no dia 18 de setembro de 1982. Meu objetivo é situar o poema borgiano em vários contextos. Inicio com a resposta do escritor argentino a um precursor, “Strange Meeting” (“Estranho Encontro”), de Wilfred Owen, analisada à luz do recente pensamento pós-estruturalista sobre a história e o excesso na escrita. Em seguida, cotejo um poema argentino posterior “Poema com Traducción Simultánea Español-Español”, de Susana Thénon, com a resposta de Borges. Em terceiro lugar, a “Elegy for the Welsh Dead in the Falkland Islands, 1982” (“Elegia aos Galeses Mortos nas Ilhas Malvinas em 1982), de Tony Conran, será contextualizada em termos da tradição celta “limítrofre” de procura de identidade nacional além das glórias de um patriotismocum-jingoísmo. E, finalmente, justapondo a elegia de Conran com a “Milonga del Muerto”, de Borges, farei reverberar na “Milonga” um suplemento – o pesadelo de guerra e um sonho de diferença: precisamente, o efeito dos excessos políticos da história sobre a escrita.”

Apesar de se tratar de um “livrinho”, a julgar pela sua forma de pocket book escrito em 61 páginas, talvez esse tenha sido o texto que exigiu de mim, como tradutora, a maior atenção e dedicação. Já informada, desde o início, pelo próprio autor, o Professor de Literaturas Românicas e Teoria Literária, (*)Bernard McGuirk, da Universidade de Nottingham, Inglaterra,  que o seu livro não seria propriamente reader-friendly,  de fácil leitura, eu resolvi enfrentar o desafio, sendo que algumas das pedras tradutórias encontradas pelo caminho foram o hermetismo de alguns trechos e a temerosa tradução de poesia.

Pretendo fazer uma resenha do texto em questão, apontando seus pontos fortes como texto rico em referências a vários autores contemporâneos importantes para a compreensão  do tema “poesia de guerra”. Inspirou-me sobremaneira esta abordagem o nosso próprio tempo  atual, de acirradas e/ou iminentes guerras civis e militares, em que o mundo parece estar em polvorosa. A minha pergunta é: há escassez de poesia de guerra nos tempos atuais?  Aguardo reações de poetas, admiradores do tema, de estudiosos.

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