Via de regra, quando sou procurada para exercer meu ofício de tradutora pública juramentada, pergunto para qual país ou quais países aquele determinado documento traduzido será enviado, mas por motivos linguísticos: existem dois tipos básicos de inglês, o americano e o britânico, e essas nacionalidades precisam ser respeitadas – há diferenças entre os dois, até mesmo na grafia. Além disso, gosto de indagar meus clientes qual o propósito da viagem, não por especulação ou porque eu tenha qualquer vínculo com a polícia de fronteiras, mas simplesmente por curiosidade e, paralelamente, para fazer uma contabilidade pessoal de quantas pessoas estão deixando a sua pátria à procura de uma vida melhor no exterior. Não raro, me deparo com situações até constrangedoras denunciadas por olhos úmidos de sofrimento e evidente desespero de causa.

Recentemente, atendi uma senhora que estava se preparando para deixar o país com destino ao Canadá. Curiosa, perguntei o que a levava a tomar tão drástica decisão visto que ela aparentava seus 50 anos de idade, formada em enfermagem no Brasil, casada, mas, assim mesmo, enfrentaria sozinha a empreitada. Depois de puxar o fio da meada, ela acabou me revelando que estava procurando uma saída para o impasse provocado por sua filha, que, bastante jovem, havia deixado a casa paterna para se juntar a alguém, segundo ela, pouco confiável. Desprovida de maiores notícias da filha e de um casamento longe de feliz, resolvera se aventurar e procurar novos horizontes para tentar aliviar sua dor emocional. Nisso, ficamos pelo menos duas horas conversando, de mãe para mãe, sobre as agruras da vida, mas sempre, de minha parte, com o viés de conforto psicológico de uma tradutora sensível aos problemas alheios. Quando essa cliente veio buscar as traduções, já estava mais aliviada e me confessou que eu a ajudara muito para entender a situação em que se encontrava. No entanto, ela continuava firme em seu propósito de buscar lá fora o que não encontrava mais no recesso de seu lar. E a vida continua, e os casos também. No próximo capítulo, contarei uma outra história tradutória e seu verso emocional.